Dias 16, 17 e 18
Bissau - Bubaque - Bissau Parte I
A ILHA.
Divido a crónica da nossa estadia na Ilha de Bubaque, Arquipélago de Bijagós em duas partes.
A viagem de barco e a estadia propriamente dita.
A travessia de 4 a 5 horas entre Bissau e Bubaque merece destaque por ser ela mesmo um acontecimento, uma aventura.
Podíamos ter escolhido uma forma mais rápida e confortável de irmos para a Ilha, existem 2 ou 3 hotéis tipo “resort” que possuem speedboats para transportarem os clientes.
Nós preferimos fazê-lo junto com a população num barco de carreira que sai à sexta e só volta ao domingo.
A Ilha de Bubaque é também a menos “turística”.
O Bijagós é uma embarcação de madeira com 14 metros de comprimento e 2 decks, cadeiras de plástico e sinceramente não sei se tem WC aguentei tanto na ida como na volta o suficiente para não ter de descobrir o WC.
Fomos dos primeiros a subir a bordo e sentámo-nos de “poltrona” a assistir ao verdadeiro espectáculo do embarque de pessoas, bens e animais.
Com uma hora de atraso lá zarpamos rumo à tão desejada Ilha e a dois dias e meio de descanso e praia.
A uma velocidade reduzida mas constante lá fomos ganhando mar, o ruído do gerador e do motor a pouco e pouco foram tornando-se familiares até que deixaram de incomodar.
A vida a bordo durante aquelas 4 horas foi tudo menos monótona pelo menos para quem como eu gosta e se diverte a observar.
A Carla ainda “passou pelas brasas”, eu não consegui e também não conseguia estar muito tempo sentado.
Viajámos do deck superior, a bombordo e estibordo íamos descobrindo pequenas e grandes ilhas, todas bem cobertas com farta e verde vegetação, afinal o Arquipélago é constituído por 80 ilhas das quais só 20 são habitadas.
À ré viajava um enorme bode branco que ía calmamente ruminando alguma erva, alguns homens jogavam cartas mas a maioria estava agarrado ao smartphone, velhos e novos. Outros bebiam cerveja (portuguesa) uma senhora vestida com um vistoso e colorido pano africano garantia o catering a bordo. Cerveja Sagres e umas sandes de uma massa de carne com molho. Não recorri ao serviço da jovem empresária pois tínhamos levado o nosso próprio lanche.
A umas 2 horas de navegação o motor calou-se e vimos uma piroga aproximar-se como se de um ataque pirata se tratasse, mas não. Era uma trasfega de passageiros e carga em alto mar. Foi um acontecimento com toda a gente a assistir.
Passadas as mais de 4 horas chegámos sãos e salvos ao Porto de Bubaque.
Mas a aventura continuava… O Comandante do Bijagós falhou a manobra de atracação e na tentativa de corrigir quase encalhou nos baixios do Porto tendo o Bijagós chegado a adornar o suficiente para deixar nervosos alguns passageiros.
Mas finalmente tudo acabou em bem a pusemos pés em terra.
Valeu muito a pena.
Viver na ILHA
Chamem-me egoísta, talvez tenham razão sou mesmo egoísta.
Gostava que os turistas continuassem a preferir os resorts das repúblicas dominicanas e deixassem Bubaque só para mim, tal como está.
Talvez “viver na Ilha” seja um pouco excessivo, afinal só lá estivemos 2 dias e meio, mas senti-me tão bem que foi como se lá vivesse.
Queríamos um alojamento simples e sobretudo barato, a Casa Dora era isso mesmo.
Fizemos a marcação por telefone com a D. Glória filha da dona e até pedimos para nos dar de almoço pois contávamos chegar pelas 14h. Com a mãe em Portugal a filha Glória não nos pareceu muito interessada em nos ajudar para além da entrega da chave do nosso bungalow.
A Carla estava com um enorme “ratinho” e disposta a comer qualquer coisa, uns ovos mexidos sei lá. Mas a Glória não estava para aí virada, então à nossa pergunta onde podíamos matar o tal ratinho respondeu que ali perto havia uma pizzaria.
E não é que há mesmo males que vêm por bem ?
Descobrimos o nosso porto seguro durante toda a nossa estadia o Sal do Mar do nosso agora amigo Belchior.
Este espanhol de Badajós, antigo quadro de uma multinacional farmacêutica e agora radicado em Bubaque adoptou-nos e nós adoptamo-lo a ele.
A nossa vontade foi pegar na trouxa e mudarmos para o restaurante / pensão Sal do Mar.
Tomámos as refeições no Belchior e conversámos muito, até dormimos a sesta nos sofás ao ar livre, aquele espaço tinha uma espécie de magia, talvez efeito dos sons dos “espanta espíritos” pendurados nas árvores e estava sempre um fresquinho bom.
Passeámos pela Ilha, fomos à Praia das Escadinhas onde assistimos ao sempre fantástico espectáculo do Pôr-do-Sol Africano, diferente de qualquer outro.
Foi emocionados e com a promessa de voltar que nos despedimos do Belchior e da “nossa” Ilha.
Regressámos a Bissau a bordo do Bijagós.
Esperavam por nós os nossos amigos Andreia e Agostinho, foi o jantar de despedida no Coqueiros (comi uma canja de ostras).
Amanhã a viagem continua, será o início do regresso.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.