Dia 1, 2, 3
Lisboa - Tanger - Marrakech - Tan-Tan
Os três primeiros dias foram um dejá vu, tantas foram as vezes que fizemos este trajecto.
De salientar o jantar em Marrakech com os nossos amigos que vinham precisamente para onde nós íamos.
Dia 4 - Tan-Tan - Boujdour
Não fossem as rectas infindáveis e o dia de hoje teria sido perfeito.
Entrámos no Sahara Ocidental.
Enquanto nos dias anteriores o objectivo era “devorar” quilómetros hoje a “história” foi outra. Saímos do petit hotel avec un petit chambre em Tan-Tan eram 8.45h
Passados alguns poucos minutos já estávamos a ser parados pela Polícia para a entrega da “fiche de passage”, situação que se repetiria por mais 4 vezes. É um controle tranquilo e amistoso, (para vossa segurança) garantem os simpáticos Gendarme e eu acredito que sim.
Entrámos em Tarfaya com a incerteza se conseguiríamos ver o que queríamos, era suposto estar fechado. Mas não, o Museu de Antoine de Saint-Exupéry estava aberto e ainda estávamos em cima das motos já éramos convidados pelo cuidador a entrar.
O meu amigo Francisco Coelho já me tinha falado deste pequeno museu e o Luis Henriques de Lancastre também, esse facto associado ao meu interesse por tudo o que diz respeito ao autor do Petit Prince fizeram com que deseja-se muito fazer esta visita e não me decepcionei. Embora pequeno tem peças muito interessantes e respira-se uma atmosfera que nos transporta aos tempos do Aéropostale.
De novo na estrada a ideia era ir almoçar a Laayoune, a meio caminho conhecemos o Dave Baskind, um australiano de 37 anos que começou a viagem em Londres com a sua KTM e conta ir até à Africa do Sul. Acabámos de jantar com ele aqui em Boujdour de onde vos escrevo.
Por falar em Boujdour.
Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa
Eu e a Carla estamos animadíssimos, a adorar cada quilómetro percorrido.
Amanhã o plano ou talvez não é ir dormir ao Hotel Barbas, famoso poiso de Overlanders a poucos quilómetros da fronteira da Mauritânia.
Dia 5
Boudjour - Hotel Barbas
Acordámos cedo como sempre, ontem jantamos com o nosso amigo Dave o australiano que está a viajar para a Africa do Sul na sua KTM, trocamos histórias de viagens e falámos sobretudo nesta, do que já fizemos e do que vamos fazer. A passagem da fronteira da Mauritânia dominou grande parte da conversa.
Em viagem o segredo é sair bem cedo, de preferência ao nascer do Sol.
O problema é que muitos hóteis só servem o pequeno-almoço a partir das 8,00h e quando o orçamento é apertado não se pode desperdiçar uma refeição que já está incluída no preço do quarto.  
Era esse o caso, só podemos tomar o pequeno almoço às 8,00h.
As motos ficaram guardadas dentro do café ao lado do hotel e foi nesse café que o pequeno-almoço foi servido, logo que o recepcionista chegou da padaria com o pão debaixo do braço. 
Acabámos por sair muito mais tarde do que pretendia-mos o que me levou a cometer um erro que espero não voltar a repetir. Não atestamos as motos, percebi isso quando passámos pela que seria a última estação de serviço à saída de Boujdour mas pensei com o meu capacete, que diabo ainda estamos em Marrocos o que não vão faltar são bombas. Pois enganei-me.
Estávamos em pleno Sahara Ocidental, os quilómetros foram passando e nada de bombas, a Carla começou a acusar a falta de gasolina e eu ía animando a coisa dizendo que ali à frente devia haver uma… E havia mas seca. Nada de gasolina, só diesel.
O que nos valeu foi o Jerican e as 2 garrafas de 1,5L que a Carla sempre previdente já tinha pedido para encher. Foi um sufoco porque já nos imaginávamos a pedir boleia a um camião para ir buscar gasolina, as estradas do Sahara Ocidental são rectas infindáveis sem se ver vivalma a não ser os camiões que passam a alta velocidade.
Mas enfim, foi só um susto e ao mesmo tempo um “abre-olhos”.
Tínhamos Dackla no nosso plano de viagem, apesar do desvio de 80km da rota, fomos lá e valeu muito a pena porque gostámos do que vimos. Uma cidade bonita, moderna, com grande avenidas e com um lindo Mar a banha-la . 
Ao acaso entrámos num restaurante, queríamos comer peixinho e não é que acertámos.Foi uma bela refeição, uma sopa de peixe divinal e uma fritada para dois. Soubemos depois pelo nosso amigo Rui Carneiro que era só o melhor restaurante de Dackla, nós merecemos e a conta nem foi nada de extraordinário , 390mad ou seja 19 euros cada um.
Saímos de Dackla em direcção ao Hotel Barbas, nossa última paragem antes da Mauritânia, onde chegámos pelas 18h.
Estradas com areia a flutuar no ar fazendo um efeito surreal e dromedários a passear foram uma constante, assim como o vento que sempre nos acompanhou para não nos deixar esquecer do local onde rolávamos.
Dia 6 Hotel Barbas - Nouadhibou 
Hoje era o grande Dia, era assim como que uma enorme pedra no sapato.
Entrar na Mauritânia e percorrer a Terra de Ninguém estava a deixar-nos muito apreensivos, porém determinados.
Eu que sou um optimista nunca tive dúvidas mas a Carla que tem grandes dificuldades em off-road (ou pensa que tem) receava não conseguir passar e na pior das hipóteses termos de recorrer a ajuda externa, não ir nunca foi opção.
Alguns relatos de quem por lá passou eram desanimadores mas eu sempre disse que não há duas histórias iguais e a nossa tinha de ser diferente e foi.
O pequeno almoço no Barbas começa a ser servido a partir das 7.30 o despertador tocou 1 hora antes, mas aqui o vosso amigo acordou um pouco mais cedo, aproveitei para escrever a crónica do dia 5 e às 7 horas já estava na rua a fotografar o nascer do Sol.
Tomámos a primeira refeição do dia na companhia do Dave com quem seguiríamos viagem até  Nouadhibou.
Eram 8 horas e as motos já roncavam, fizemos os 80 kms que nos separam da fronteira como quem vai para um exame sem a certeza de conseguir passar.
Chegados ao lado marroquino deparámos com uma fila enorme de camions, estaria a decorrer uma greve. 
O meu conhecimento dos procedimentos fronteiriços deixava-me bastante à vontade, afinal nos últimos anos entrei e saí de Marrocos dezenas de vezes, mas cedo percebi que esta fronteira era muito diferente da de Tanger. Muito mais controle e mais uns quantos passos a dar, é um vai e vem de gabinete para gabinete de agente para agente. Enquanto esperávamos fomos conversando com alguns senegaleses que tal como nós também esperavam e claro as fotos para recordação também ajudaram a passar o tempo. Foi 1 hora, finalmente íamos entrar na Terra de Ninguém e como não é de ninguém está como a Natureza a fez.
Quando a Carla depois de serpentear por entre mais uma enorme fila de camions se deparou com um solo de pedras e areia cheio de altos e baixos a primeira frase dela foi “eu não vou fazer isto”.
Eu e o Dave começámos a incentivá-la com todos os adjectivos que nos vieram à cabeça, e eis que ela engrena a primeira e arranca, não vou escrever aqui o que ouvi através do intercomunicador SENA, o Facebook certamente bloqueava a minha conta. Apesar de 2 ou 3 quedas eminentes esta grande Mulher passou sem nunca vacilar a Terra de Ninguém.
O nosso Cabo das Tormentas estava ultrapassado, daqui para a frente só podia correr bem e correu.
Com a ajuda do Sheick, um jovem mauritano conhecido do Dave ultrapassamos sem grande dificuldade a enorme burocracia da entrada neste País. É de realçar a simpatia de todos os agentes com quem tivemos de nos cruzar, até água e croissants ofereceram à Carla.
Chegámos às 9.30, eram 12,30 e já rolávamos pelas estradas da Mauritânia. 
Há relatos de quem passe mais de 5 horas para passar esta fronteira.
Tenho a sorte de ter uma grande Mulher ao meu lado, determinada, valente e sobretudo companheira.
Nouadhibou esperava por nós, só o nome da cidade já me agradava. Entrar num País pela primeira vez é sempre uma grande emoção.
Depois de comermos alguma coisa no primeiro café mauritano, seguimos viagem.
Se se derem ao trabalho de ver o mapa Nouadhibou fica numa península tal como Dakla, a entrada na cidade impressiona, o Mar à nossa esquerda de um verde lindo, muitos rebanhos de cabras e ovelhas de um lado e outro da estrada. Procurámos um hotel no centro e no primeiro que entrámos pediram 70 euros pelo quarto e pequeno almoço, estava fora do nosso orçamento. O Dave tinha visto que havia alguns Auberge junto ao mar, foi para lá que fomos.
Uns 12 kms afastados do centro e embrenhados nos bairros periféricos lá fomos em direcção à praia (porque será que a orla costeira exerce tanta atracção em nós ?). 
Mais um pouco de todo-terreno, algum por entre lixo como podem ver nas fotos e a Carla a tirar de letra, está uma Pro.
Depois de uma tentativa frustrada (o auberge estava fechado) deparámos com um Centro de pesca… Eu ía na frente entrei, parei a moto e vi uma senhora com aspecto ocidental. Perguntei se tinha quartos, a senhora disse que não sabia porque era hóspede.
Entrei num edifício com aspecto de hangar e vi que era um restaurante, o cheiro a peixe grelhado disse-me que era ali que tínhamos de ficar.
E assim foi, um pequeno e simples paraíso à beira mar.
Dia 7
Nouadhibou - Nouakchott 470 km.
Tomámos o pequeno almoço com o Dave, era hora de nos despedirmos.
O nosso amigo australiano seguia para o deserto no encalço do enorme comboio do minério e nós seguimos também para o deserto mas direcção Sul para Nouakchott a capital da Mauritânia.
Deserto, deserto, deserto… 470 quilómetros de deserto.
Alcatrão muito bom, aqui e ali invadido pela areia de cor alaranjada, velocidade de cruzeiro nos 120 Km porque desde dromedários a cabras e vacas tudo gosta de passear na estrada e há que estar atento.
42º de calor seco… Muito calor, associado ao cansaço acumulado começa a fazer o seu efeito. Mas o caminho é para a frente e a Carla já mostrou ser uma viajante de valor. Algumas paragens para refrescar , se é que isso é possível e fomos comendo os quilómetros .
Sombras é coisa que não existe, a pouca vegetação não tem mais de 20cm de altura, era hora de almoçar.
Parámos numa das muitas pequenas povoações que existem ao longo da estrada.
Aproveitamos a sombra de uma pequena casa e um pneu como banco e mesa. Passados um minuto ou dois já tínhamos companhia.
“ Messiu, cadeaux, cadeaux” e lá dividimos o nosso pão com a criançada, de cadeaux dei-lhes uns chapéus que o Pedro Bastos fez a gentileza de nos dar e lá foram eles enxotados por um ancião que não queria que a criançada incomodasse a nossa refeição.
Mais uns quilómetros percorridos e parámos para um breve descanso junto a umas casas, eu deitei-me no chão de uma que tinha a porta aberta e a Carla ficou em pé, o dono de repente aparece com uma cadeira para a senhora. Temos sido muito bem tratados.
Finalmente chegámos a Nouakchott , capital da Mauritânia seriam umas 16.30h rapidamente encontrámos um hotel, banho e rua… a pé.
Tomámos umas coca-cola numa esplanada e fomos jantar, no restaurante éramos os únicos estrangeiros, são os nossos restaurantes preferidos. Comemos muito bem e sobretudo barato.
Era tempo de descansar, amanhã mais uma fronteira.
Dia 8
Nouakchott -  Saint-Louis (Senegal) 250 km.
250 km vistos no mapa parece pouco para quem no dia anterior tinha feito 470…
Em todos estes anos de motociclismo e viagens o dia mais doloroso até agora tinha sido o regresso de um Iron Butt Lisboa - Paris 1.800 km non stop. No dia seguinte fizemos Paris Andorra e esse foi o dia em sofri mais, até hoje.
Começou com a saída de Nouakchott, um autêntico jogo de playstation, carros, burros com e sem carroça, pessoas, centenas de pessoas num rendilhado difícil de desfazer. Foram 15km para sair da cidade.
Quando finalmente alcançámos a N2 deparámos-nos com asfalto Lunar tais eram as crateras.
A seguir aparecem as obras, 15km de desvio por uma pista que mais parecia o Paris - Dakar, buracos, muita areia e camiões enormes e velhos a passarem de um lado e outro das motos.
A Carla voltou a surpreender-me, apesar do enorme esforço nunca lhe ouvi a palavra “desistir”, foi muito penoso, cada km demorava uma eternidade a passar e eram só 250…
Saímos do hotel em Nouakchott eram 8.00h chegámos à fronteira do Senegal já passava das 16h.
8 longas horas para percorrer 250km uma média de 30km / hora e só parávamos breves 5 minutos para descansar e beber água, muita água estavam 42º, sem sombras.
Mas não pensem que foi só sofrimento porque não foi, também nos divertimos com as parvoíces que dizíamos  um ao outro, eu a tentar incentivar e animar a Carla e ela a responder-me sempre com sentido de humor.
E a bicharada ? Foi um autêntico safari, desde dromedários a burros, a vacas, e imaginem também nos cruzámos com crocodilos (um até atravessou a picada à nossa frente) e com porcos selvagens (o que eu me lembrei do Pumba do Rei Leão). Um dos Javalis estava dentro de água a tomar banho, eu parei a moto a poucos metros para lhe tirar uma foto, pois o bicho veio para a estrada e ficou a olhar para mim, claro que engatei a primeira e pus-me ao fresco.
Toda aquela zona que atravessámos é uma zona de reserva protegida, tivemos de pagar taxa de passagem.
Parei por uns minutos numa pequenina aldeia de pescadores, falei com eles enquanto amanhavam o peixe para pôr a secar ao sol, vida dura destas pessoas simples e simpáticas sempre disponíveis a trocar umas palavras e sorrisos com quem com eles se cruza.
Finalmente avistamos a luz ao fundo do túnel, a fronteira da Mauritânia - Senegal.
Lá estavam os nossos amigos espanhóis que tinha passado por nós com as suas BMW, afinal não tinham levado muito menos tempo do que nós, também eles motociclistas com muita experiência estavam exaustos, elogiaram fortemente a coragem da Carla e até se levantaram para ela se sentar Na única sombra que por ali havia.
A passagem na Mauritânia foi rápida e ali estava o Senegal, formalidades e pagamentos concluídos em pouco mais de 1 hora era tempo de rumar a Saint-Louis que estava ali mesmo a 50km de distância.
Parámos numa estação de serviço e imaginem o luxo… Tinha ar condicionado e gelados da Olá, era o paraíso na Terra.
Cada um comeu um Magnum e bebemos água fresca (a nossa devia estar a 40º).
Telefonamos ao nosso amigo Helder, um simpático português do Fundão a trabalhar no Senegal e que conhecemos através do grupo do Armando e do Rui Carneiro. Também ele motociclista em 5 minutos estava connosco para nos levar onde iríamos passar a noite, um simpático e generoso quarto com casa de banho, que fica num anexo à casa de uma família.
Depois de um banho e descanso fomos no carro do Helder conhecer Saint-Louis by night e claro jantar.
Bebi a minha primeira cerveja geladinha desde que saí de Lisboa.
Comemos um belo peixe grelhado (afinal Saint-Louis é terra de pescadores) num restaurante com um ambiente fabuloso onde a maioria dos clientes eram francófonos, de destacar a simpatia dos funcionários.
Tirámos umas fotos no bar e fomos ver mais um pouco da cidade. Ainda parámos na banca do Café Tubá (café citron) e claro que tomámos o famoso café.
Era hora de deitar e pensar o quanto somos privilegiados por termos estas histórias para contar.

Dia 9
Saint-Louis (Senegal) - Lac Rose, Dakar 250 km.
A Carla precisava de descansar, dormir mais um pouco. Mas aqui o velhote pouco dorme e o passeio nocturno de ontem despertou-me a curiosidade, tinha de voltar hoje manhã, atravessar a Ponte Saint-Louis (muito parecida com a de Vila Franca de Xira, já agora para quem não sabe, minha terra natal) e testemunhar com luz do dia todo o fervilhar que mesmo a noite já fazia adivinhar, e as decorações garridas das pirogas, de dia seria certamente outra coisa.
As motos ficaram durante a noite guardadas no pátio da casa do Helder, pelo que lhe perguntei se podia ir buscar a minha bem cedo.
Este nosso amigo amável como poucos logo se prontificou a fazer comigo o tour matinal.
Seguimos na sua pick-up e fomos logo brindados por um magnífico nascer-do-Sol. Só em Africa se assiste a tão maravilhoso espectáculo.
Depois foi deambular pela parte antiga desta cidade que já foi a capital do Senegal, obrigatório entrar no Hotel de la Poste, verdadeiro marco dos primórdios da aviação e sentir toda aquela atmosfera e mais uma vez a presença de Antoinne de Saint-Exupery.
Tive ainda oportunidade de fazer um “live” com um senhor que me disse ser de origem portuguesa, tinha o apelido Carvalho, no final pediu-me uma pequena ajuda para ajudar a família ao que eu recusei educadamente.
Voltei ao nosso quarto onde a Carla já me esperava pronta para partir, foi tomar o pequeno-almoço, colocar os belos e práticos sacos Touratech na moto e arrancar.
Tínhamos poucos quilómetros pela frente, contávamos chegar cedo ao destino.
O calor depressa começou a apertar, o Senegal deve ter um enorme número de habitantes por km2, pelo menos ao longo das estradas.
Digo isto porque as povoações pequenas ou grandes são uma linha contínua, uma atrás da outra, todas com milhares de pessoas, umas a pé outras de carro, autocarro, camião, carroça… e os animais soltos, muitos animais. Talvez para prevenir atropelamentos as autoridades adoptaram a “lomba” são centenas… à entrada à saída e no meio das povoações, algumas são autênticas montanhas, é um desgaste de pastilhas de travão e a média baixa, baixa muito.
É impossível fazer mais do que 50 km / hora.
250km demoram 5 horas, chegámos À zona de Dakar á hora do almoço, à hora em que o calor é mais intenso. E a Carla não se dá nada bem com o calor.
Apesar dos avisos dos meus amigos Armando e Rui Carneiro enganei-me e em vez de fazer os últimos 15km que nos separavam do Lago Rose por estrada asfaltada, meti por maus caminhos, outra vez muita areia e o calor e o cansaço acumulado… A Carla pela primeira vez foi-se abaixo.
Fiquei preocupado, muito.
Foram 5 minutos, longos 5 minutos em que começas a rever todas as opções possíveis, abortar a viagem, mete-la no avião em Dakar… Eu sei lá tudo me passou pela cabeça naquele momento de angústia.
Ainda por cima a culpa era minha, tinha sido um burro.
Mas eis que qual Fénix renascida das cinzas esta Grande Mulher se levanta e diz: Vamos embora !
O nosso Hotel como qualquer paraíso que se preze não é fácil de encontrar e é preciso sofrer um pouco para depois lhe dar mais valor. E foi assim mesmo que aconteceu, só que desta vez chegados ao Lago deixei a Carla à sombra e fui sozinho procurar o tal paraíso.
Tudo está bem quando acaba bem e o nosso dia acabou mesmo muito bem.
Passeamos por entre as montanhas de sal à beira lago, conversámos com um simpático local que nos ensinou tudo sobre o famoso Lago e sobre o não menos famoso sal que é o sustento de centenas de famílias da região, creio poder afirmar que todos vocês têm ou já tiveram na vossa mesa sal do Lac Rose.
Tudo isto tendo por música de fundo o som do Mar que fica a menos de 400 metros e os cânticos religiosos das meninas de uma aldeia que fica do outro lado do Lago.
Depois de um mergulho na piscina do Hotel Le Calau (assim se chama o paraíso) jantámos e recolhemos ao nosso bungalow.
Amanhã seria outro dia.
Dia 10
Lac Rose - Dakar - Lac Rose 80 km.
E ao 10º Dia descansámos !
A Ilha de Gorée, localiza-se ao largo da costa do Senegal, em frente a Dakar.
É um símbolo do tráfico de escravos.
Foi entre os séculos XV e XIX, um dos maiores centros de comércio de escravos do continente africano, a partir de uma feitoria fundada pelos Portugueses.
Esse entreposto foi, ao longo dos séculos, conquistado e administrado por Holandeses, Ingleses e Franceses.
A sua arquitetura é caracterizada pelo contraste entre as sombrias casernas dos escravos e as elegantes mansões dos seus mercadores.
Gorée, classificada em 1978 como Património da Humanidade é um símbolo da exploração humana e uma escola para as gerações atuais.”  In Wikipédia.
Estando em Dakar, Senegal, não podíamos deixar de visitar a Ilha de Gorée e a sua tristemente famosa ‘Porta sem Retorno’.
Por essa porta, passavam os escravos que eram vendidos para as Américas.
Ela ficou com esse nome porque, uma vez transposta, o escravo não veria nunca mais a sua terra natal, seu povo, sua família e nem os seus valores como ser humano!
Tirando esta triste história, triste mas ainda assim necessária de lembrar, a Ilha de Gorée é um local que merece a visita só por si.
De traça colonial, as ruas ostentam lindas e coloridas flores, buganvílias gigantes e todo o tipo de flora.
Pessoas simpáticas e acolhedoras, claro que alguns a tentarem vender o serviço de guia, afinal é disso que eles vivem.
Foi um dia de descanso muito bem passado, até a travessia de barco (20 minutos) é motivo de interesse pelos personagens a bordo, claro que aqui este vosso amigo mete conversa com toda a gente e sou recompensado com belas histórias que todos têm para contar.
Almoçámos na Ilha, bem junto ao Mar. A Carla fez amizade com um imponente Pelicano, animal de estimação do nosso restaurante.
De regresso ao nosso Hotel no Lac Rose fomos abordados por um jovem português com pronúncia do Norte e a cara dele não me era estranha. Conversa para aqui, conversa para ali descobrimos que o nosso interlocutor era nem mais nem menos que o Daniel Rodrigues, famoso fotojornalista vencedor do World Press Photo e que estava ali a fazer um trabalho para o New York Times.
Ficámos umas horas à conversa, trocando experiências e vivências, foi muito agradável, o Daniel para além de grande fotógrafo é um excelente contador de histórias. Trocámos contacto e ficou a promessa de nos voltarmos a encontrar algures no Mundo ou então no Porto.
Viajar é isto mesmo.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dia 11
Lac Rose - Fathala  270 km
Depois de pela primeira vez na viagem termos passado 2 noites no mesmo local, era hora de rumar a Sul.
Os nossos amigos Armando e Rui na sua viagem descobriram por acaso uma Reserva de Vida Selvagem gerida por Sul Africanos e aconselharam-nos a fazer uma visita. Implicava um desvio na nossa rota de 70 km, 140 ida e volta, mas depois de ver as fotos e os relatos não hesitamos e resolvemos mesmo ir.
Estudei as três alternativas de percurso e optei pela que me pareceu melhor, embora implicasse uma pequena travessia de ferry no Delta do Niominka.
E aqui começa uma bela e deliciosa história de viagem.
Estávamos muito animados, a estrada era boa, pouco trânsito e o calor a dar tréguas, os kms passaram rapidamente até ao cais de embarque para o tal ferry. Íamos chegar bem cedo a Fathala e eu já me estava a ver a beber uma Flag bem fresquinha à beira da piscina que o Armando tanto elogiou.
Chegados ao local notámos alguma agitação, carros parados e um camião dentro do ferry (era mais uma jangada de ferro), encostámos as motos à direita bem junto à rampa de acesso na esperança de entrarmos assim que o camião saísse.
Sai da moto, tirei o capacete e perguntei a um senhor se o ferry ía partir de seguida, respondeu que não, que estava avariado à uma semana e que tínhamos de voltar para trás. Nem queria acreditar… lá se ía a piscina e a Flag.
Decidi confirmar e entrei na embarcação. Lá dentro apenas um jovem polícia sentado com os phones nos ouvidos talvez a ouvir música. Perguntei se o ferry estava mesmo avariado, disse-me que sim mas já tinha sido reparado. Alto a coisa está a melhorar. E quando sairia ?  Talvez meia-hora ou uma hora.
Voltei para junto das motos onde a Carla me esperava e contei-lhe, ela não ficou satisfeita com as incertezas e resolveu investigar por conta própria.
Voltou ao polícia e fez-lhe um verdadeiro interrogatório, descobriu que os responsáveis pelo barco estavam por perto mas em parte incerta. Entretanto eu ía verificando que toda a gente estava a usar pirogas para passar pessoas e mercadorias para a outra margem, conclui que o ferry devia estar mesmo avariado e não devia sair dali tão cedo. Perdi a Carla de vista e fui à procura dela, estava à conversa um pouco mais à frente numa barraquinha onde almoçavam 4 ou 5 homens, eram os homens do ferry.
Não sei o que ela lhes disse, mas sei que os vi a saírem da sombra da barraca ainda a mastigarem e dirigiram-se para o barco.
Ela virou-se para mim e disse: “Não precisamos de voltar para trás, vamos atravessar no ferry.”
E quando ela diz é porque é.
Os homens voltaram ao trabalho, trocaram o motor avariado e em meia hora o barco estava a navegar, obra da Carla.
E não é que chegámos a Fathala ainda a tempo da piscina e da Flag fresquinha ! Quem tem uma Carla tem tudo.
Fathala !
Obrigado Armando e Rui Carneiro pela sugestão, adorámos cada momento que lá passámos.Em primeiro lugar todos os animais andam em completa liberdade e há um mínimo de contacto com os humanos, o que quer dizer que eles estão tal como se estivessem no seu habitat natural.
As fotos falam por si.
As instalações estão muito bem cuidadas e são de grande qualidade. O pessoal é de uma educação, simpatia e profissionalismo exemplar.
O dia acabou comigo dentro da piscina, com um enorme rinoceronte branco a poucos metros.
FANTÁSTICO
ESPECTÁCULO !!!
Dia 12
Fathala - Tambacounca  360 km
Acordámos depois de uma noite muito bem dormida na enorme e confortável cama deste fantástico Lodje, Fathala.
10 minutos antes da hora marcada já estávamos na recepção aguardando algo ansiosos que nos viessem buscar para o passeio com os leões.
Pontualidade quase britânica destes Sul-Africanos, eram 8 horas da manhã e o veículo já rolava na savana.
Fomos recebidos por um guia senegalês (acho) enorme, muito simpático lá foi explicando quer em inglês quer em francês o que ía acontecer a seguir. Nada de mochilas ou sacos, nada de falar alto, nada de gestos repentinos e tocar nos animais nem pensar.
Teríamos de seguir com rigor todas as indicações dos guias. Tudo isto nos pareceu um dejá vu pois tínhamos lido os excelentes relatos do Armando Almeida. Foi distribuído por cada pessoa um pau tipo bengala e explicado que os leões tinham sido habituados a respeitar aquele pau e não o podíamos largar por nada.
Depois de um breve percurso agora a pé, avistamos os nossos amigos, um lindo casal de 2 anos de idade. O Chris e a Sissi.
O Chris já ostentava uma respeitosa juba, fazendo antever um belo jovem adulto.
Com os leões estavam já 4 guias, com o que nos acompanhou ficaram 5, eram estes homens que iriam zelar pela nossa segurança.
De imediato se notou o à-vontade com que ligavam com os animais. Fizemos o passeio sempre atrás dos leões, tirámos as fotos da ordem e posso dizer que foi uma experiência diferente e bastante interessante.
Regressámos ao Lodje para tomar o pequeno almoço, vestir o equipamento e partir. O nosso destino era Tambacounda que os locais carinhosamente chamam de Tamba.
Tínhamos pensado que conseguiríamos sair pelas 10h, mas só o fizemos 1 hora mais tarde. O calor já apertava.
Boas estradas fomos rolando ligeirinhos, passámos por Kaolack, cidade grande e muito movimentada onde parámos junto a dois Gendarmes nas suas reluzentes BMW RT para nos certificarmos que estávamos no bom caminho e claro tivemos de tirar uma foto, tem sido constante a simpatia das autoridades, não tendo nós até agora passado por nenhum constrangimento.
No dia anterior comprámos uma melancia nas senhoras que as vendem à beira da estrada, ela passou a noite no frigorífico do nosso quarto e devia estar fresquinha, parámos à sombra de uma frondosa árvore e almoçamos a deliciosa melancia. Aproveitamos para estrear as cadeiras de campismo Helinox made in China que o meu amigo Manuel Peixoto fez o favor de encomendar e a Carla aproveitou para arejar um pouco as pernas, as calças colam-se causando bastante desconforto. Por sorte pudemos almoçar sem que ninguém por ali passasse, num País muçulmano uma mulher com as calças para baixo creio que não seria muito bem visto.
Foi tranquila a nossa viagem até Tambacounda ou Tamba se preferirem.
Atestámos à entrada como de costume e perguntámos por um hotel, foi-nos indicado o Óasis (era mesmo disso que estávamos a precisar).
Hotel bastante concorrido, com piscina, quartos confortáveis QB, por ali ficámos.
De realçar os milhares de grilos espalhados por tudo o que era área comum, eram mesmo milhares. Tínhamos de fazer gincana para não os pisar, é claro que era tarefa quase impossível e houve um ou outro que entregou a alma ao criador.
Jantámos no restaurante do hotel, com uma banda sonora altíssima, 3 chineses que deviam ser surdos tal era o volume da conversa e a única mesa disponível era mesmo ao lado da deles.
Fomos dormir porque amanhã a etapa adivinhava-se complicada… E foi !
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dia 13. Carla & Carlos Going South.
Tambacounca - Gabu (Guiné-Bissau)  260 km
Tomámos o pequeno almoço bem cedo, 7,30h estávamos a sair do hotel.
Estava um fresquinho muito bom, esse facto animou-nos.
Seguimos por estrada muito boa até ao cruzamento para Pirada, aqui começou a “picada” e as minhas preocupações com a Carla.
Definitivamente o off road não é a praia dela.
Percorreu os kms até ao posto fronteiriço do Senegal onde as formalidades decorreram rápido e sem problemas.
Ao chegar ao posto da Guiné assaltou-nos um misto de alegria por termos chegado ao País de destino e de angústia por sabermos que tipo de “estrada” nos aguardava nos próximos 60 km que separa a fronteira de Pirada de Gabu.
De realçar que as formalidades na Guiné também correram muito bem, primeiro fomos aos militares, depois à Polícia Nacional, depois ao Fundo Rodoviário , depois à Polícia de Trânsito  e ainda à Alfândega. Deixámos nos vários departamentos 10.000 CFA (não se assustem são só 15 euros).
Os próximos 60 km foram muito complicados, a picada está muito deteriorada, a estação das chuvas acabou em Outubro e deve ter sido rigorosa, abriu muitos sulcos fundos, muita areia… Enfim tudo aquilo que aterroriza a Carla.
Mas lá fomos indo, devagar. Algumas vezes eu avançava, deixava a minha moto voltava para trás a pé e trazia a moto dela. Foi muito trabalhoso, mas chegámos.
Entretanto num dos meus avanços e recuos parei junto a uma tabanca, a família veio logo ter comigo e eu na tentativa de explicar a minha paragem disse-lhes que ía beber água e ía, a minha garganta tinha mais terra vermelha que um camião carregado. Abri a top case para tirar a garrafa e quando olho para o lado estava uma menina com um púcaro de alumínio imaculado cheio de água para me oferecer, a generosidade destas pessoas é comovente, partilham o muito pouco que têm com um qualquer desconhecido que por ali passa montado numa moto enorme.
Conversei um pouco com o avô e a avó explicando que também eu era avô de um casalinho e que os netinhos deles tal como os meus também eram muito bonitos. Eu levo sempre a minha Fuji XT1 pendurada ao pescoço, tive de fazer uma breve sessão fotográfica com esta família tão simpática. Viajar para mim é sobretudo isto.
Bom lá chegámos a Gabu, onde a Carla foi o centro das atenções de toda a Cidade ou quase toda.
Nunca marco hotel, confio nas indicações dos locais e tem corrido bem, lá fomos para o Hotel Kassa mas antes tenho de lhes contar algo que me impressionou bastante. Nas nossas cidades europeias temos pombos, andorinhas na primavera e passarinhos, pardais. Nas cidades e vilas dos países africanos por onde tenho passado vejo galinhas, porcos a passear nas ruas. Na Guiné há abutres, sim esses mesmo. Passeiam-se junto às pessoas como se fossem pombos. Impressionou-me.
Outra vez milhares de grilos dentro do hotel, este é bastante confortável, até tem piscina (onde nadava um sapinho), jantámos galinha à moda da guiné e fomos dormir.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.

Dia 14
Gabu (Guiné-Bissau) - Bissau 190 km
Este dia 14 da nossa viagem e já com o nosso objectivo a apenas 190 quilómetros adivinhava-se duro, tendo em conta o dia anterior.Mas estávamos redondamente enganados, o caminho de Gabu até Bissau foi extremamente agradável, diria mesmo, prazeroso.
Acordámos com um lindo dia de céu azul, as botas e as calças tinham dormido na varanda do quarto numa tentativa de arejamento que resultou mal, a humidade no ar é tanta que ao contrário do pretendido estavam bastante húmidas e como se isso não bastasse, as botas da Carla e só as da Carla vá-se lá saber porquê tinham o seu interior ocupado com meia dúzia de grilos :
Pequeno almoço tomado era hora de nos fazermos à estrada. Precisávamos de atestar e para nossa satisfação à saída de Gabu deparámos-nos com uma bela Estação de Serviço da “nossa” GALP.
Esta empresa por iniciativa do nosso amigo Luis Santos da Cunha teve a amabilidade de apoiar esta nossa aventura e nós só podíamos retribuir abastecendo e entabulando conversa com os funcionários da “bomba” e até com um simpático agente da Polícia Guineense. A GALP tem uma forte presença em todo o território da Guiné-Bissau o que muito nos alegrou.
Os 190 kms até Bissau foram um bonito passeio como podem ver pelas fotos, estradas cercadas de vegetação verdejante, campos de arrozais, gente bonita de vestes bem coloridas, enfim uma Africa lindíssima difícil de descrever pelo menos para mim, rapaz de parcos ou inexistentes dotes de escrita.
Chegados à periferia de Bissau deu logo para perceber que estávamos na capital, uma larga Avenida e trânsito, muito trânsito.
A larga avenida com três faixas para cada lado desemboca na linda Praça dos Heróis Nacionais, antiga Praça do Império,
Os sinais da presença portuguesa são por demais evidentes, o Hotel Café Império saltou-nos à vista.
Tinha no GPS o Hotel Coimbra, recomendação unânime de quantos por aqui passaram.
Com a minha mania de não reservar antecipadamente quase que não tínhamos quarto, mas foi mesmo só quase.
Instalados e de banho tomado era tempo de contactar os amigos dos nossos amigos.
A amizade é a melhor network do Mundo.
Veio a Marta enviada pelo Emidio Sardinheiro e veio o Agostinho Palminha e a Andreia Neves enviados pelo Hernâni primo da Teresa Sousa.
E foi muito bom estar com estes 3 compatriotas.
Jantámos no Contentor da Tchada, local muito IN e de visita obrigatória, conversámos, rimos, divertimo-nos.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dia 15
Bissau
Ao fim de 15 dias de viagem estávamos em Bissau, objectivo alcançado !
Desde a escola primária que o nome Bijagós me chamava a atenção, ir passar 2 dias a uma das 80 ilhas do arquipélago sempre fez parte dos nossos planos.
Era quinta-feira e o ideal era irmos hoje e regressar no sábado para iniciarmos o regresso a casa no domingo.
Sabíamos que pelo menos dois hotéis tinham speedboats que nos podiam recolher em Bissau, mas nós queríamos ir num barco de carreira que fosse usado pela população. Esse barco só sai de Bissau às sextas e regressa ao domingo, teve de ser assim.
Deparámo-nos com um dia livre em Bissau.
Depois de um belo pequeno-almoço no Hotel Coimbra com direito a sumo Compal, pastel de nata e café Delta, saímos para as ruas de Bissau na Aventurinha, a moto da Carla ficou a descansar.
A primeira paragem seria no Orfanato Casa Emanuel, esta visita foi sugerida pelo Joel Fonseka que em boa hora o fez.
O Orfanato fica na saída de Bissau em direcção ao aeroporto, falhei a entrada no bairro e andei por ali às voltas até que um local me indicou o caminho. Tivemos de deixar a Aventurinha numa das “ruas” do bairro porque o caminho começava a ser muito estreito para a “gordinha”.
Fomos a pé e finalmente demos com o portão da Casa Emanuel.
Fomos recebidos pelas Irmãs (freiras) Eugénia e Isabel, esta última é médica. Duas pessoas extraordinárias que levam para a frente este projecto que abriga 120 crianças, todas órfãos.
A maioria perde a mãe no próprio parto, os pais são ausentes. Esta Casa é a única esperança de uma vida melhor para estas crianças.
Visitámos as instalações, simples mas muito dignas.
Pusemos no nosso colo bebés de lindos olhos a pedirem carinho e afecto. Saímos emocionados mas convictos que estas duas senhoras e todos os padrinhos e madrinhas tudo farão para que o futuro sorria a estas crianças.
Fica aqui o apelo a quem me ler, se puderem e quiserem ajudar aqui têm uma obra que vale mesmo a pena.
Sendo eu fotógrafo e viciado em fotografar nem uma foto fiz com nenhuma das crianças, não me perguntem porquê porque não sei responder, talvez por estar demasiado emocionado, talvez por querer guardar só para mim aqueles olhares tão doces.
Obrigado Joel.
Voltámos ao Hotel Coimbra, a Carla precisava descansar.
Pelas 18h a Marta veio buscar-nos e fomos ao Centro Cultural Português, anexo à nossa Embaixada para participarmos na inauguração de uma exposição do artista Guineense radicado no Canadá Lilison Sousa Cordeiro. Num ambiente informal, muito africano convivemos como se já fizéssemos parte da comunidade.
A seguir e sabendo a minha “paixão” por um bom Gin a Marta e a Andreia levaram-nos ao Toni´s também conhecido por Casa do Benfica em Bissau. Que bem que me soube este Gin, “sem mariquices”.
Era hora de jantar e fomos conhecer mais um restaurante/contentor. Muito bom.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dias 16, 17 e 18
Bissau - Bubaque - Bissau  Parte I
A ILHA.
Divido a crónica da nossa estadia na Ilha de Bubaque, Arquipélago de Bijagós em duas partes.
A viagem de barco e a estadia propriamente dita.
A travessia de 4 a 5 horas entre Bissau e Bubaque merece destaque por ser ela mesmo um acontecimento, uma aventura.
Podíamos ter escolhido uma forma mais rápida e confortável de irmos para a Ilha, existem 2 ou 3 hotéis tipo “resort” que possuem speedboats para transportarem os clientes.
Nós preferimos fazê-lo junto com a população num barco de carreira que sai à sexta e só volta ao domingo.
A Ilha de Bubaque é também a menos “turística”.
O Bijagós é uma embarcação de madeira com 14 metros de comprimento e 2 decks, cadeiras de plástico e sinceramente não sei se tem WC aguentei tanto na ida como na volta o suficiente para não ter de descobrir o WC.
Fomos dos primeiros a subir a bordo e sentámo-nos de “poltrona” a assistir ao verdadeiro espectáculo do embarque de pessoas, bens e animais.
Com uma hora de atraso lá zarpamos rumo à tão desejada Ilha e a dois dias e meio de descanso e praia.
A uma velocidade reduzida mas constante lá fomos ganhando mar, o ruído do gerador e do motor a pouco e pouco foram tornando-se familiares até que deixaram de incomodar.
A vida a bordo durante aquelas 4 horas foi tudo menos monótona pelo menos para quem como eu gosta e se diverte a observar.
A Carla ainda “passou pelas brasas”, eu não consegui e também não conseguia estar muito tempo sentado.
Viajámos do deck superior, a bombordo e estibordo íamos descobrindo pequenas e grandes ilhas, todas bem cobertas com farta e verde vegetação, afinal o Arquipélago é constituído por 80 ilhas das quais só 20 são habitadas.
À ré viajava um enorme bode branco que ía calmamente ruminando alguma erva, alguns homens jogavam cartas mas a maioria estava agarrado ao smartphone, velhos e novos. Outros bebiam cerveja (portuguesa) uma senhora vestida com um vistoso e colorido pano africano garantia o catering a bordo. Cerveja Sagres e umas sandes de uma massa de carne com molho. Não recorri ao serviço da jovem empresária pois tínhamos levado o nosso próprio lanche.
A umas 2 horas de navegação o motor calou-se e vimos uma piroga aproximar-se como se de um ataque pirata se tratasse, mas não. Era uma trasfega de passageiros e carga em alto mar. Foi um acontecimento com toda a gente a assistir.
Passadas as mais de 4 horas chegámos sãos e salvos ao Porto de Bubaque.
Mas a aventura continuava… O Comandante do Bijagós falhou a manobra de atracação e na tentativa de corrigir quase encalhou nos baixios do Porto tendo o Bijagós chegado a adornar o suficiente para deixar nervosos alguns passageiros.
Mas finalmente tudo acabou em bem a pusemos pés em terra.
Valeu muito a pena.
Viver na ILHA
Chamem-me egoísta, talvez tenham razão sou mesmo egoísta.

Gostava que os turistas continuassem a preferir os resorts das repúblicas dominicanas e deixassem Bubaque só para mim, tal como está.
Talvez “viver na Ilha” seja um pouco excessivo, afinal só lá estivemos 2 dias e meio, mas senti-me tão bem que foi como se lá vivesse.
Queríamos um alojamento simples e sobretudo barato, a Casa Dora era isso mesmo.
Fizemos a marcação por telefone com a D. Glória filha da dona e até pedimos para nos dar de almoço pois contávamos chegar pelas 14h. Com a mãe em Portugal a filha Glória não nos pareceu muito interessada em nos ajudar para além da entrega da chave do nosso bungalow.
A Carla estava com um enorme “ratinho” e disposta a comer qualquer coisa, uns ovos mexidos sei lá. Mas a Glória não estava para aí virada, então à nossa pergunta onde podíamos matar o tal ratinho respondeu que ali perto havia uma pizzaria.
E não é que há mesmo males que vêm por bem ? 
Descobrimos o nosso porto seguro durante toda a nossa estadia o Sal do Mar do nosso agora amigo Belchior.

Este espanhol de Badajós, antigo quadro de uma multinacional farmacêutica e agora radicado em Bubaque adoptou-nos e nós adoptamo-lo a ele.
A nossa vontade foi pegar na trouxa e mudarmos para o restaurante / pensão Sal do Mar.
Tomámos as refeições no Belchior e conversámos muito, até dormimos a sesta nos sofás ao ar livre, aquele espaço tinha uma espécie de magia, talvez efeito dos sons dos “espanta espíritos” pendurados nas árvores e estava sempre um fresquinho bom.
Passeámos pela Ilha, fomos à Praia das Escadinhas onde assistimos ao sempre fantástico espectáculo do Pôr-do-Sol Africano, diferente de qualquer outro.
Foi emocionados e com a promessa de voltar que nos despedimos do Belchior e da “nossa” Ilha.
Regressámos a Bissau a bordo do Bijagós.
Esperavam por nós os nossos amigos Andreia e Agostinho, foi o jantar de despedida no Coqueiros (comi uma canja de ostras).

Amanhã a viagem continua, será o início do regresso.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dia 19
Bissau - Kaolac (Senegal)
O REGRESSO.
Mas porque é que tem de haver um regresso ? Não podíamos continuar para Sul ?
Parece que não, temos de voltar.
Último pequeno-almoço no Hotel Coimbra e umas fotos para recordar as zonas comuns, bem interessantes (o hotel tem dezenas de estantes com milhares de livros que podem ser lidos ou simplesmente consultados por quem quiser).
Hoje ia ser mais um daqueles dias difíceis, 3 Países para atravessar e 6 postos de fronteira cada um com as várias entidades a testar a paciência dos viajantes.
Escolhi um trajecto que nenhum dos meus conhecidos tinha feito, normalmente as pessoas vão por Banjul a capital da Gâmbia, eu escolhi atravessar o Rio Gâmbia que serve de fronteira entre o País do mesmo nome e o Senegal por Soma. Era o desconhecido mas vá-se lá saber porquê é assim que eu mais gosto. A Carla alinhou, a última decisão era sempre dela, eu só sugeria.
Foi uma maravilha, a partir de Janeiro de 2019 a nova Ponte Trans Gâmbia vai estar concluída e nem de ferry vamos precisar.
Admito que por relatos lidos estava um pouco apreensivo em relação às autoridades da Gâmbia, tinha ouvido coisas feias. Mais uma vez se provou que cada um é cada um e cada viagem é uma viagem.
Tudo nos correu muito bem em qualquer dos 6 postos fronteiriços, tendo até sido isentos de uma das taxas por simpatia diplomática (palavras do oficial de fronteira). 
Na Gâmbia fizemos amizade com uma inspectora do SEF local que fez questão de tirar uma foto com a Carla tendo para tal tido o trabalho de tirar a farda pois “it is not allowed” dizia ela.
A Ponte como podem ver pelas fotos está quase concluída, mas o ferry também é super rápido e barato, 30 minutos entre embarque, travessia e desembarque e 2 euros por moto e passageiro.
Todo este trajecto era novo para nós já que na ida contornamos a Gâmbia, o nosso destino era Kaolac onde chegámos por volta da 16h.
A cidade estava caótica, ou ainda mais se é que isso é possível, era feriado religioso e o Presidente ía passar por ali, ruas cortadas e nós à procura de um hotel.
A sorte continuava a proteger-nos e demos com o Hotel Paris pertencente à mesma cadeia do hotel de Tambacounda.
O nosso quarto ficava no segundo andar com janela para a rua, durante toda a noite fomos embalados por cânticos religiosos.
Continuamos a adorar, espero que vocês também.
Dia 20 a 27
A partir do vigésimo dia a viagem foi pelo caminho inverso ao que tínhamos feito para Sul.
Não quero com isso dizer que tenha sido uma ”seca” ou menos interessante, antes pelo contrário, continua a ser “viagem”. Embora a estrada seja a mesma tudo o resto é diferente, começando pelo ponto de vista em relação à paisagem envolvente, conseguimos ver o que na ida não vimos.
Resta dizer que em Saint-Louis voltamos a estar com o nosso amigo Helder e com mais dois viajantes portugueses que tinham ido até Dakar e também estavam de regresso, o Delfim e o Carlos. 
Encontrámos também já no Sahara Ocidental o João Luís que ía dar uma volta até ao Mali.  
Estes encontros fortuitos em viagem são sempre muito prazerosos e emocionantes.
Chegámos a casa 27 dias depois de termos partido.
1 casal, 2 motos, 2 continentes, 7 países, 11.000kms
Foi uma aventura que vai prevalecer na nossa memória até que ela o permita.
Resta agradecer a todos quantos de uma forma ou de outra nos ajudaram e incentivaram a realizar o que começou por ser um sonho.
Vale a pena sonhar !  
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